quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nosso tempo

"'Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo; por vezes, por certas portas, entrevemos o que talvez não seja senão cenário. Todo o mundo é confuso, como vozes na noite' (Fernando Pessoa). Sinto nessas palavras o sentimento do nosso tempo, a descrição dessa época. Uma era onde os homens são um “mix” de tudo, uma série de peças quebradas, fragmentos que não se combinam numa unidade sublime. Sempre meio apartados, divididos, confusos entre um chamado e outro. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade e aflição de espírito, diz o Eclesiastes. Somos qualquer coisa que seja um pouco mais que pura invenção. Um pouco mais...afinal fazemos coisas e as coisas acontecem. Alimentar o cachorro, aguar as plantas, corrigir um desnível na calçada, abraçar as crianças, conversar com os amigos, trabalhar.... Ações que todos nós fazemos. Mas o que nos cabe acreditar e o que deveríamos fazer?
A verdade é que dentro de nós não deveria haver lugar para o pensamento. Atrapalha, espicha as porções da alma para o lado oposto da vida. E sempre ficamos, como camisa velha, com a gola meio caída".

Escrevi esse texto tempos atrás. Hoje de manhã andei pensando no que sou. Não consigo encontrar lógica nenhuma na linha ampla dos meus interesses. Vida ilógica, não se sabe viver ou a vida sempre foi assim cheia de desorientações?

10 comentários:

Cé S. disse...

Flávio, como você sabe, não concordo com esta tua visão tristonha da vida. Tal como Spinoza, Nietzsche e o resto da turma, acredito na alegria, e na vida.

Só quero relatar um lance engraçado: tua postagem deprê foi patrocinada por um produto que promete a melhora do humor pelo melhor funcionamento dos intestinos. !!!!

:D divertido, não?

Flavio Williges disse...

César,
Eu gosto de textos sobre finitude, absurdo, essas coisas, mas não tenho (acho) uma visão tristonha da vida. A vida é legal. Às vezes é uma merda também, mas dá prá encarar. O que me enche é que as coisas tão sempre mudando, sempre acontecendo algo e meu "eu" fica meio desnorteado no meio disso tudo. Não vi quem é o patrocinador...

Giovani Felice disse...

Flávio

Em primeiro lugar, teu blog ficou ainda mais legal!
Eu não tenho nenhuma inclinação, como o César também não tem, para algo como um 'sentimento tristonho da vida', e também concordo contigo que a vida tem altos e baixos. Mas deixa eu discordar um pouquinho de ti: eu realmente ficaria aborrecido é se as coisas ficassem sempre paradas -- inclusive eu. O problema, para mim e muitos outros, é que a gente sabe onde essas mudanças vão dar, no que diz respeito a nós, seres humanos finitos. Que coisa, isso da vida acabar, a da gente e a dos outros!

Flavio Williges disse...

Valeu Giovani! Pr� responder bem ao C�sar eu teria que escrever um tratado metaf�sico sobre minha vis�o da vida,explicitar algumas id�ias fantasiosas que me perseguem. No essencial, eu lamento que as coisas n�o se resolvam. Vou colocar uma passagem no blog de um livro sobre Arist�teles que estou lendo. D� uma olhada nela e depois continuamos conversando.

Flavio Williges disse...

Giovani,
A passagem que comentei é a seguinte: "nossa existência é precária: nunca estamos livres de preocupações, medos, aflições, temores, insegurança de todos os tipos- bomba atômica, colapso econômico, revolução política, fracasso pessoal, tragédia na família". Fonte: Henry b. Veatch, O homem Racional, uma interpretação moderna da ética aristotélica. Topbooks.
O livro não é muito bom, não é muito sistemático quero dizer.
Mas essa idéia que ele apresenta no contexto de uma defesa da idéia de vida examinada do Socrates é algo que eu gostaria de ver resolvido. Sou suficientemente religioso para acreditar que há um estado de espírito de não-perturbação, onde o medo e alegria, a dor e o prazer já não mais nos afetam. Era disso que eu tratava com o César. Mas vou procurar desenvolver melhor minhas idéias noutros posts.

Anônimo disse...

Oi Flávio! A mudança te perturba?
Faz parte da vida, da nossa evolução eu gosto do movimento...me irrita a mesmice...
Eu penso como escreveu Clarice Lispector:
Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver:
A salvação é pelo risco,
Sem o qual a vida não vale a pena!!!
Abraço,
Débora Borsatti

Cé S. disse...

Tô com a Débora e com a Clarice:

!! viva a mudança !!

O que é vivo, muda. E vivo estou !!

Flavio Williges disse...

Ok, vcs venceram! Acho que eu prefiro a eternidade. Lá a gente não engordaria.

Flavio

Débora Borsatti disse...

rsrs...tá certo!
Mas provavelmente também não poderíamos comer...;)

Anônimo disse...

Ó Flávio, há coisas na vida que a gente demorará para achar a resposta. Quem sabe alguém pensou que dessa forma poderiamos sempre mais termos gosto pela vida e nos entretermos com ela como numa janela em que vemos os outros nos abanarem dizendo: Eu também sou como tu! E no entanto, nos deliciamos ao ver que nós, apesar das dúvidas e incertezas, temos muitíssimas outras certezas que preenchem o imenso vazio da nossa existência e nos fazem buscar sempre mais o insondável, o inanimado, o infinito, etc. A vida, Flávio, é mais simples do que nós imaginamos.... Não queira complicar-la. Abraços. MC

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