quinta-feira, 22 de julho de 2010

Vou votar na Dilma



Tenho um grande interesse por filosofia política e por política concreta, a política que mexe com a vida das pessoas. Ao mesmo tempo, admito que os problemas humanos são grandes e dificilmente serão inteiramente resolvidos no interior de um espaço público comum, na esfera prática da política. No entanto, a história nos oferece alguma esperança, sobretudo quando o discurso e a ação política tiveram como princípio básico a busca do bem humano.

Aristóteles escreveu que "Toda cidade (polis) é uma comunidade de algum tipo,e toda comunidade é estabelecida tendo em vista algum bem....Mas, se todas as comunidades visam algum bem, a cidade ou comunidade política, que é a maior de todas, e engloba todas as restantes, visa o bem em grau maior que qualquer outra, e o mais alto bem". Como a passagem mostra, Aristóteles distingue a cidade de outras formas de comunidade humana (como a família, grupo) e considera que a mesma é essencial para a realização do mais alto bem humano ou  excelência humana: a vida de racionalidade moral e teórica (segundo ele, naturalmente). A cidade é assim um elemento crucial para alcançar a excelência humana.

A política concreta (a arte exercida pelos cidadãos da polis) de nossos dias está longe de visar a excelência, o bem humano supremo. Em parte, isso vem ocorrendo porque os agentes da política são menos cidadãos e mais políticos profissionais, agentes interessados no exercício do poder, na manutenção de sua função de governo.  Mas como eu dizia, às vezes a história nos oferece algum alento. Ter esperança em política, hoje,  não significa acreditar na existência de políticos com compromisso com o bem supremo humano. Já nos seria suficiente, ao menos, algum compromisso com a minimização do sofrimento humano, particularmente da fome e da injustiça social. Só quando essa disputa for realmente travada, as palavras de Aristóteles e de outros grandes pensadores da política voltarão a fazer sentido. Pobreza e miséria, mas sobretudo a opressão do pensamento, a impossibilidade de querer por si mesmo, ainda que se diga que nunca fomos tão livres quanto hoje, são os principais empecilhos da busca do bem humano. E somente os agentes políticos que tiverem esse ideal em vista merecem nosso voto modesto e sonhador.

Nesse ano temos boas opções para votar para presidente. Qualquer dos três principais candidatos com percentuais acima de 10% nas pesquisas são lúcidos e aparentam compromisso com os principais problemas sociais enfrentados no país.  As políticas sociais do governo Lula na educação e no combate à miséria são já, por si só, razão para votar no candidato do governo. Conheço pouco da história política da Dilma. Conversei com duas pessoas da minha mais alta estima, que conheceram e trabalharam com ela, e ambas comentaram que ela é séria e competente. Agora, acabo de ler a biografia da Dilma aqui.
 Nessa eleição temos que escolher um governo capaz de conseguir uma coalização de forças na arena política concreta e com sensibilidade social, uma vez que a solução dos dilemas humanos no trabalho e na materialidade da vida dependem de uma sensibilidade humana fundamental. O enfrentamento da ditadura, a ligação com o PDT de Brizola e o trabalho no setor energético em diferentes governos me convenceram que a Dilma é, hoje, a melhor opção.



quarta-feira, 14 de julho de 2010

O lugar do Brasil na história da filosofia



Não há dúvida que o trabalho institucional com filosofia e as condições da pesquisa filosófica (como atividade acadêmica regulada inter pares) melhorou muito nos últimos anos no  Brasil. Apresento uma lista de pontos onde podemos reconhecer alguma evolução:
a) melhorias no mercado editorial: houve um incremento no número de traduções de textos filosóficos de boa qualidade (tanto comentários, como textos originais de filósofos).

b) as chamadas "novas tecnologias" e suas funcionalidades (email, base de dados, materiais em formato eletrônico) facilitaram o contato entre pesquisadores, estudantes, acesso a livros, etc. 

c) o acesso e aprendizado de línguas de outros países (os países dos filósofos que são estudados aqui) tornou-se mais fácil, em função do advendo de (b);

d) as universidades parecem estar recebendo mais recursos, de modo que as bibliotecas dos cursos  e a interlocução de professores nacionais com professores de outras partes do mundo melhorou;

e) há uma demanda formal maior pela filosofia entre estudantes, leitores comuns e profissionais de áreas não-filosóficas (vide o surgimento de revistas de filosofia vendidas em bancas de jornal, a presença da filosofia em cursos de humanidades, cursos preparatórios para o vestibular e ensino médio).


Se tudo isso é, aparentemente, verdadeiro, o que falta ainda para considerarmos que o Brasil está em condições de ocupar um lugar na história do pensamento filosófico? O que falta para que nossas universidades façam brotar filosofias capazes de resistir ao tempo e filósofos de grande envergadura, filósofos que tenham o mesmo destaque que Putnam e Cavell de Harvard, por exemplo?

Essas perguntas não são fáceis de responder. Em primeiro lugar, há problemas de geo-política que impedem ou prejudicam o surgimento de grandes intelectuais brasileiros. Embora não sejam escritores menos hábeis, Machado de Assis e Guimarães Rosa não são conhecidos como Tolstoy, Flaubert ou Bukowski. A principal razão disso parece ser realmente uma questão do poder de editoras e das dificuldades de vender um autor brasileiro fora daqui (um problema que não parece ocorrer com a música e do futebol brasileiro). Com nossos grandes filósofos e filosofias poderia estar-se dando o mesmo. Mas, se isso fosse verdadeiro, deveria ser possível localizar os machados e rosas da filosofia. E quem são eles? E o que escreveram? 
Bueno, essas duas últimas questões são retóricas. Há bons filósofos no Brasil, filósofos como Putnam e Cavell. Desconheço completamente o trabalho de lógica do prof. Newton da Costa, mas ele parece ser um desses filósofos que tem levado o nome do Brasil muito longe. O sucesso de Newton da Costa, no entanto, ainda me parece insuficiente para afirmar que o Brasil já ocupa um lugar na história da filosofia. Em geral, parece necessário haver um certo espectro de questões sendo discutidas e um pequeno grupo de autores de destaque lidando com elas, para que um país possa ser reconhecido por sua contribuição filosófica. Talvez pudessemos ampliar a lista com os nomes de Porchat, Chateaubriand e outros autores mais antigos como Farias Brito, por exemplo. Mesmo ssim ind reluto. O lugr do pensmento filosófico brsileiro n históri d filosofi ind nõ foi estbelecido. Felizmentge me prece que nunc estivemos tõ perto de encontrr  esse lugr.







 

sábado, 10 de julho de 2010

Heródoto e Serra



Soube, através do blog do Marco, que o jornalista Heródoto Barbeiro foi demitido, supostamente por ter questionado o candidato a presidente José Serra acerca do valor dos pedágios no Estado de São Paulo, no programa Roda Viva. Heródoto, para quem não o conhece, é um dos jornalistas mais sérios e independentes que já vi na televisão brasileira. Tenho saudadades do tempo em que ele e o Luis Nassif dividiam a bancada do Jornal da Cultura. Se não me engano, ele é também formado em História, budista e, seguidamente, fazia boas recomendações de leitura em seus comentários no telejornal.  A demissão dele, caso tenha sido de fato motivada por questões da política tucana, é mais uma razão para não votar em José Serra.


terça-feira, 6 de julho de 2010

filosofia, produção e procriação



É curiosa e pouco explorada a relação entre filosofia e paternidade. Um grande número de filósofos famosos, até onde sabemos, não eram pais. Lembro, assim no más, dos seguintes: Platão, São Tomás, Descartes, Hume, Kant, Stuart Mill, Nietzsche, Wittgenstein, Heidegger. Rousseau abandonou seus filhos e Marx parece ter tido alguma dificuldade para alimentá-los. Imagino que, para alguns filósofos, ser pai poderia representar um impedimento para o pensamento; afinal, cuidar de crianças requer tempo! No entanto, é mais provável a hipótese de que eles, que tanto pensaram, nunca tenham dado uma atenção muito grande ao assunto, a não ser, talvez, em algum devaneio perdido, motivado pelos gritos de crianças na rua. 


Tive meu primeiro filho com 23 anos; mais ou menos a idade que Hume escreveu o Tratado da Natureza Humana. O segundo nasceu no ano passado. Aprendi e venho aprendendo muito com eles. Ter filhos não parece tão relevante para a humanidade quanto escrever bons livros. Mas ser pai tem lá suas compensações. Eu diria que elas aparecem quando nos movemos numa outra ordem de interesses, um domínio de  ganhos que não figura na esfera das questões diretamente acadêmicas (pelo menos naquelas que dizem respeito à filosofia). Seja como for, não parece haver nenhuma incompatibilidade lógica entre produzir e reproduzir, entre ser bom filósofo e ser pai. E talvez as chances de produzir algo relevante aumentem quando temos filhos mais cedo.

Penso em abandonar a arte da reprodução. Já na academia, tenho ainda mais uns 8 ou 9 anos para atingir a idade média da produção de uma obra influente (segundo o levantamente estatístico desse blog). Veremos! Até 2020!