
"Nesse estado de espírito ocorreu-me dirigir a mim mesmo a seguinte pergunta: 'suponha que todas as tuas metas na vida fossem realizadas, que todas as transformações que tu persegues nas instituições e opiniões pudessem ser efetuadas naquele instante mesmo: seria isto motivo de grande alegria e felicidade para ti?' E minha consciência, sem poder se reprimir, respondeu: 'Não!'. Meu coração então se abateu: todo o fundamento sobre o qual eu erguera a minha vida havia ruído. Toda minha felicidade consistia na permanente busca daquela meta, e esta meta já não me atraía. Como então os meios poderiam me interessar? Parecia-me que não restava mais nada por quê viver" (Autobiografia da editora Iluminuras, p. 124).
O cérebro de Mill cresceu às custas do esvaziamento do seu coração. Em boa hora foi salvo pela poesia. Uma boa educação deve enfatizar a consciência dos princípios corretos sem suprimir o sentido da paixão pela vida! Enxergar a verdade e amá-la. O difícil é encontrar a receita.
4 comentários:
Há um modo alternativo de ver as coisas: a felicidade não consiste em atingir as metas, mas em ter metas que ainda não foram atingidas e em agir para atingi-las.
Obrigado pelo comentário, Alexandre. Não sei se ficou claro na minha postagem, mas o que ele estava dizendo é que ele foi treinado a tratar as questões da vida como dilemas racionais do tipo "se quero que tal coisa aconteça, o que devo fazer para alcançá-la". Ele diz que isso deu certo durante muito tempo, mas um dia ele percebeu que ele poderia alcançar tudo mas ainda se sentiria vazio, pois não tinha desenvolvido a capacidade de ter os sentimentos necessários para estar satisfeito e alegre com a vida. O problema dele, se entendi bem, não era atingir as metas, mas ter sentimentos apropriados. Enfim, como ele conta, o pai dele não ensinou-o a sentir, mas a pensar e isso pode resultar, algumas vezes,em resolver as coisas no plano do pensamento, mas ainda não estar de bem com a vida.
Eu concordo com tudo que disseste, Flávio, exceto com uma. Considere a seguinte pergunta: ele "não tinha desenvolvido a capacidade de ter os sentimentos necessários para estar satisfeito" com o que? Tu dizes: com a vida. Mas a vida, para Mill, consiste em atingir metas? Estou vivendo apenas quando as atinjo? O que o texto de Mill parece supor é que ele não tinha desenvolvido os sentimentos adequados em relação ao sucesso na tentativa de atingir metas. Isso sugere que a felicidade consiste em ter sentimento apropriados quando se atinge metas, que a obtemos quando essas metas são atingidas, se temos os sentimentos adequados. Dado que ele não foi educado para ter esses sentimentos, faltou uma condição necessária para felicidade. Atingir as metas é necessário, para Mill, mas não suficiente. O que eu disse é que talvez nem necessários seja. Podemos ser felizes tendo os sentimentos adequados com relação à nossa situação enquanto perseguimos metas, antes de atingi-las.
Ok Alexandre, entendi! Acho que ele concordaria com isso.
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