quinta-feira, 26 de junho de 2008





Vai o link (http://www.filosofiaemquadrinhos.com.br/Quadrinhosefilosofia.html) e o convite para ler a adaptação do Maurício de Souza do famoso "Mito da Caverna" de Platão. Na mesma página também há outros materiais interessantes sobre filosofia e quadrinhos. Vale a pena conferir!








quinta-feira, 19 de junho de 2008






Van Gogh


Seus olhos azuis fulminados

O amarelo, a luz contorcida.

Corvo, cipreste, girassol.

E aquela vontade agressiva

de raspar, arrancar à unha

a pele podre da vida

e pintar, pintar, pintar

a espessura do que ele via.


Paulo Neves








Há um belo artigo sobre o livro do filósofo e economista Amartia Sen (foto) no blog do Antônio Cicero (http://antoniocicero.blogspot.com/). Gostei do texto e vou prestar atenção no trabalho dele doravante.
Vai uma palhinha:
Contra a política da unidimensionalidade identitária, Sen defende o poder
das identidades competitivas. "Posso ser ao mesmo tempo", diz, no que é sem
dúvida uma auto-descrição, "asiático, cidadão indiano, bengali com ancestrais de
Bangladesh, residente americano ou britânico, economista, filósofo amador,
escritor, sanscritista, alguém que crê fortemente no secularismo e na
democracia, homem, feminista, heterossexual, defensor dos direitos gays e
lésbicos, praticante de um estilo de vida não-religioso, de background hindu,
não-brâmane, descrente em vida depois da vida (e, caso interrogado, descrente em
vida antes da vida também)". E complementa: "Isso é apenas uma pequena amostra
das diversas categorias às quais posso simultaneamente pertencer".

Ouvi falar da poesia e do trabalho filosófico do Antonio Cícero através do amigo Paulo Neves, o maior e mais tímido poeta gaúcho da atualidade, autor de "Viagem, espera", pela Companhia das Letras. Eles estiveram juntos num sarau poético em Porto Alegre.





quarta-feira, 18 de junho de 2008







Mulheres





Para o bem e para o mal, as idéias filosóficas sempre estiveram por trás da capacidade do Ocidente interpretar a si mesmo. Com respeito ao sentido do feminino e do papel da mulher nos relacionamentos, no mundo social e natural não foi diferente. Alguns filósofos tinham opiniões bastante pejorativas acerca das mulheres, outros ajudaram a fixar um sentido romântico e frágil do feminino, embora, no mais das vezes, as coisas não tenham sido exatamente assim. Nietzsche é, talvez, o que mais se notabilizou num tipo de ataque brutal, depreciativo, da mulher. Até hoje muitos comentadores da obra de Nietzsche esforçam-se para justificar seus “pensamentos” sobre a condição feminina.
Mas também é verdade que o preconceito contra a mulher é uma atitude pouco racional e enfrentou resistências desde Platão. Os estóicos, Stuart Mill, Hume e muitos outros podem ser considerados pensadores feministas que contribuíram abertamente a favor da causa feminina. E, talvez por isso, a dignidade da mulher é hoje um fato cristalino que encontra seu maior atestado nas piadas masculinas cheias de ressentimento sobre o novo estatuto da mulher. As razões do ressentimento são evidentes: nada incomoda mais o homem do que reconhecer-se um senhor sem domínios bem demarcados, vivendo ao lado de figuras independentes, seguras e livres.
Como num festival de bruxaria, a crescente igualdade entre os sexos torna as duas almas e naturezas exorcizáveis: nem o homem, nem a mulher estão salvos. Os dois vivem nessa condição de contínua ambigüidade; não é bem, nem mal ser macho ou fêmea. Ao contrário de pensar a mulher por metáforas geográficas de ocupação de espaços, ou funcionais como o exercício de papéis masculinos, talvez devamos ver um jogo de alimentação mútua entre homem e mulher, com a criação de duas figuras de contornos cada vez mais tênues, intercambiáveis, mutantes. Algumas mulheres já sustentam homens; a passividade é uma propriedade que vaga errante entre ambos. O mesmo vale para outras atribuições como o comando, a perspicácia nos negócios, etc.
Trato hoje de mulheres, pois acredito que pela primeira vez na história de Santa Cruz existe uma grande probabilidade de duas mulheres disputarem a prefeitura. Em termos de maturidade política é uma grande notícia, considerando, especialmente, que o direito feminino de voto no Brasil só foi plenamente conquistado em 1934. Em 1932, podiam votar as mulheres casadas, mediante autorização do marido e as solteiras e viúvas com renda própria. E se as coisas melhoraram em termos de dignidade ou quanto ao estatuto do gênero, a opressão política da mulher ainda está longe de acabar. Apesar de representar mais de 50% do total da população brasileira, a proporção de mulheres na política é bem menor do que homens e seria menor ainda se os tribunais não fixassem um número mínimo de candidatas a cargos eletivos por partido. Além disso, até hoje é comum encontrar muitas mulheres submissas que votam no candidato do marido (sabe-se lá porque razão) . No jogo político, portanto, a história continua pendendo para o lado dos homens.
Mas que diferença faz ter uma mulher ou um homem no poder? Essa é realmente uma pergunta intrigante. Uma resposta bem óbvia seria dizer que as mulheres são melhores representantes políticas das aspirações delas mesmas. Mas isso não parece ser uma verdade e nem mesmo algo bom: um político exemplar deve atender o interesse comum, os melhores interesses e não apenas vantagens corporativas. O melhor argumento para as mulheres estarem no poder político é este: mulheres e homens devem estar juntos no poder por igualdade, partilha e mútua presença. Não existe mística particular, de um ou de outro. Pensar que a mulher na política pode ser uma “mãe protetora” é um equívoco, possivelmente causado pela força das idéias filosóficas e românticas do passado que ainda atravancam nossa mente. As mulheres cheias de sensibilidade, que não agem como homens, são parte de uma antiga mística, que pouco ajuda nas escolhas do presente. A mulher não é o reservatório do amor, não é a certeza do perdão, não é uma alma cândida e frágil sempre pronta a nos guardar em seus braços. Mulheres são como homens, com desejos, temores, aspirações...humanas, às vezes fortes, às vezes fracas, como nós. Por isso mesmo, é bom que os dois se encontrem por perto não só dentro de casa, mas também no espaço público que é, afinal, também um espaço delas.

domingo, 15 de junho de 2008


moinho de versos

movido a vento

em noites de boemia

vai vir o dia

quando tudo que eu diga

seja poesia


Encontrei esse texto sobre bairros boêmios das cidades no animot, o blog amarelão do césar, que sempre tem coisas boas prá ka. Logo lembrei do Leminski, que anda em algum bar ou rua secreta de uma cidade esquecida. Tempos atrás escrevi algo parecido. Bem mais babaca, é verdade, mas escrevi. Chamava-se "viver a cidade" e anda circulando pela rede.

Não é possível quantificar o quanto a sociedade e a cultura devem à boemia.
Em todas as eras, em todos os países bem sucedidos, tem sido importante que ao
menos uma parte pequena da paisagem urbana não esteja dominada por banqueiros,
corretores, franquias, restaurantes genéricos, e terminais ferroviários. Esse
pequeno distrito deve, ao invés, ser a reserva de -- sem ordem especial --
insones e restaurantes e bares que nunca fecham; bibliófilos e as pequenas lojas
e bodegas que os alimentam; alcoólatras e viciados e desviantes e os
proprietários que os compreendem; aspirantes a pintores e músicos e os estúdios
modestos que podem acomodá-los; damas de virtude fácil e os homens que as
requerem; desajustados e poetas de praias estrangeiras e exílios de remotos e
cruéis ditadores. Embora não deva haver desvantagem em ser jovem em tal
distrito, a atmosfera não deve de modo algum desencorajar o veterano.

Christopher Hitchens, em 'last call, bohemia', um artigo para a vanity fair sobre a importância dos bairros boêmios para as cidades que prezam pela vida cultural/espiritual/intelectual/mental

terça-feira, 10 de junho de 2008


Uma análise lógica muito interessante, feita pelo Fabian, dos últimos acontecimentos envolvendo o des-governo Yeda, seguramente o episódio mais vergonhoso da história política gaudéria. A desgraça é que se ela perder o cargo por prática de algum crime eleitoral, seu vice está longe de inspirar confiança.


Argumentos do tipo ad hominem ofensivo


Argumentos do tipo Ad hominem tentam refutar uma afirmação ou proposta atacando
seu proponente e não fornecem um exame ponderado da afirmação em questão. ‘Ad
hominem’ significa “contra a pessoa”.
Argumentos do tipo ad hominem ofensivo
são uma espécie de ad hominem onde se ataca uma pessoa, geralmente de forma
depreciativa, por uma peculiaridade sua. Seja idade, caráter, família, sexo,
moral, posição social ou econômica, personalidade, aparência, roupa,
comportamento profissional ou político, ou filiação religiosa. A dedução é que
não há motivo para aceitar seriamente as opiniões da pessoa. Por exemplo: fulano
é mau caráter. Logo, não devemos aceitar o que ele está dizendo.
Infelizmente o noticiário político estadual dos últimos dias está repleto de
argumentos falaciosos, que não são amigos da lógica nem da argumentação
racional. Na última briga intestina entre membros do primeiro escalão do governo
Ieda, de repercussões políticas ainda incertas, mas graves, foi transmitido ao
vivo, mais uma falácia ad hominem ofensivo, que fornece a base para a estratégia
de defesa de uma ala do governo gaúcho contra outra.


X reclama que
está sofrendo assédio moral devido às irregularidades que estão sendo cometidas
por parte da gestão estadual, da qual faz parte.

Adicionalmente, X
afirma que, como autoridade pública, não pode se omitir frente provas de
irregularidades em órgãos públicos, pois isso seria crime de responsabilidade

Como prova da afirmação de X, há uma cópia de uma conversa gravada entre
X e Y, onde Y confessa esquemas de irregularidades em órgãos públicos com
objetivo de financiar campanhas eleitorais (inclusive do atual governo)

Y admite a existência de irregularidades em órgãos públicos, realizadas
para financiar o atual governo

Y não sabia que estava sendo gravado por
X, logo X é mau caráter.

Conclusão: não devemos acreditar que X sofreu
assédio moral nem que há irregularidades desse governo não investigadas.


Do blog do Fabian Domingues: http://omeutempohoje.blogspot.com/

domingo, 8 de junho de 2008

Deus, memória e autoconhecimento

uma passagem muito bonita do livro de Charles Taylor sobre Agostinho e memória.

"A alma está presente para si mesma e, apesar disso, pode estar totalmente longe
de conhecer-se; pode estar inteiramente enganada a respeito de sua própria
natureza. Assim, podemos procurar conhecer a nós mesmos; e, mesmo assim, não
saberíamos onde começar a olhar, nem teríamos consciência de ter nos encontrado,
se já tivéssemos certo entendimento de nós mesmos. Agostinho resolve esse
problema de, ao mesmo tempo, conhecer e não conhecer, através da "memória". ...É
na memória que reside nossa apreensão tácita do que somos, a qual nos guia na
passagem de nossa ignorância original sobre nós mesmos e da descrição
dolorosamente errada de nossa pessoa para o verdadeiro autoconhecimento.... Na
própria raiz da memória, a alma encontra Deus. E, assim, pode-se dizer que a
alma "lembra-se de Deus". Num sentido importante, a verdade não está em mim.
Vejo-a "em" Deus. No lugar onde ocorre o encontro, há uma inversão. Mergulhar na
memória leva-me para além". (Fontes do Self, p. 179-180)

quinta-feira, 5 de junho de 2008





















essa é a terceira edição do Ciclo de Cinema e Filosofia da Unisc. A temática da vez é a religião e os comentários/palestras tratarão das concepções de homem de cada uma das religiões ou filosofias religiosas que são retratadas nos filmes. Queria destacar a presença de dois palestrantes de Porto Alegre: o Rogério Severo e o Enio Burgos. O Rogério é um grande filósofo, um dos melhores de uma geração de excelentes estudantes da UFRGS. Fez doutorado na Universidade de Illinois em Chicago e hoje divide sua vida entre o estudo acadêmico e a prática espiritual numa Casa Espírita de Porto Alegre que tive o prazer de conhecer. O Enio Burgos é médico, budista, trabalha em Santa Cruz e, até onde sei, vive no Mosteiro Budista Caminho do Meio em Viamão, que está sendo pintado por artistas do Brasil e do exterior (ver foto acima). Ele escreveu um belo livro chamado Medicina Espiritual. Enfim, é mais uma bela promoção do Curso de Filosofia da Unisc. Não vou perder! Os detalhes da programação podem ser vistos no folder e também no link eventos da página da Unisc, onde aparece o título das palestras de cada um dos participantes. ( http://www.unisc.br/).