quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Scooby


Estamos de luto. O Scooby morreu segunda-feira. Ele teve uma infecção depois da cirurgia, já estava bem fraquinho e não resistiu. Embora muito triste, resolvi ver a morte dele dentro do esquema da vida: ninguém existe prá sempre e o Scoobynho teve uma vida muito feliz. Era alegre, conhecido e querido por todos nas redondezas, teve várias namoradas e já estava velhinho.
Fica agora esse vazio da casinha sozinha, a lembrança dos gemidos dele pedindo prá entrar, os passeios e brincadeiras com a Chiquinha. Mas a Chica, que é filha do Scooby, está ajudando a acalmar nossa dor. Que Deus cuide bem dele no céu canino!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008


Em tempos de Brasil a mil, sempre é bom dar uma pausa socrática e pensar um pouco em quão longe realmente poderemos ir. Tudo bem que esse tipo de conversa pode parecer um anti-clímax, uma espécie de banho-de-água-fria de um cara neurótico e pessimista. Afinal, fazem décadas que a economia de nosso país não mostrava tanto fôlego, décadas que não víamos otimismo e um discurso de esperança de melhorias no atendimento à saúde, no saneamento, na Amazônia e etc. E o otimismo não é gratuito: temos o petróleo pulando debaixo das placas, crescimento do emprego, produção e consumo em alta em muitos Estados (não no nosso, que anda endividado até o pescoço) e articulação internacional para dar autonomia e liberdade ao calejado pueblo latino. O normal, então, seria dizer pros pessimistas neuróticos: "olha só, nunca foi assim...faz favor de curtir um pouco". Não, obrigado, não vou entrar nessa onda! Não que eu queira ser um estraga-prazeres. É que já sou um pouco velho e reconheço que aqui, nos trópicos, o vento sopra, mas o tempo demora prá passar...e as mudanças chegam tarde ou nunca chegam.
Então, nobres senhores, aprendamos a ver as coisas por cima das vagas do entusiamo e o que se vê talvez já nem seja mais tão bonito. Vou dar um exemplo da minha terra que são as academias privadas de ensino.

A universidade brasileira, com algumas pequenas exceções saudáveis, é ainda o retrato de uma civilização primitiva onde a verdade verdadeira (nua e crua) e o conhecimento sempre aparecem atrelados às chagas da baixa política. Um exemplo claro disso é a política educacional brasileira que segue, com confiança cada vez maior, a desastrosa estratégia de melhorar os indíces de educação (superior) multiplicando diplomas. Vou mostrar como isso é danoso para o país a partir do caso das universidades privadas. Há 10 ou 20 anos atrás essas universidades existiam ao lado do sistema público de ensino. Cobravam matrículas pesadas e sobreviviam de um trabalho que eu poderia qualificar sem nenhuma dúvida de honesto e comprometido com um dos interesses fundamentais da república: oferecer boa formação, especialmente para profissionais de nível superior. A lei das particulares era, até então, a seguinte: "faça bem teu trabalho, forme bem teus profissionais e cobre o valor justo (em geral alto, pois ensino não é mercadoria barata)". Não tenho dúvidas que as coisas andavam bem nessa época.

Mas então veio a tal desregulamentação e os portas se abriram. Começaram a pulular universidades e faculdades e centros em tudo quanto é canto. As particulares mais antigas se viram num brete, tendo que diminuir mensalidades para lidar com as concorrentes e, em muitos casos, acabaram sendo seduzidas pelo discurso danoso da facilitação. A máxima do "faça bem teu trabalho" mudou para "se apertarmos muito, eles (essa moeda forte chamada alunos) vão prá outra instituição qualquer e aí não sobreviveremos". Consequência lógica: melhor não pegar pesado e rezar prá que tudo não afunde no lodaçal da falta de competência, do desprezo pelo conhecimento profundo e bem sedimentado. Deu o que todos sabem: universidades privadas de longa tradição com desempenho escolar cada vez mais fraco, como mostrou a última avaliação do MEC.
Nosso país pode ser mais. Otimismo e confiança são benéficos. Já o entusiasmo...bueno no universo do ensino ele certamente daria bons frutos se fosse aplicado no fechamento das más escolas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008


Mais abaixo um belo artigo de Carlos Lessa sobre a atual especulação em torno da exploração dos campos de petróleo da camada pré-sal no território brasileiro. A foto acima é apenas uma das belas imagens do filme There Will be Blood. O filme apresenta um retrato cru e assustador da ambição humana. A fotografia, especialmente no início, é impecável. Luz, sombra, cor..... mas me deixou tão assustado que não consegui pensar em nada para dizer sobre ele.


Toda profissão tem cacoetes lingüísticos. O geólogo brasileiro denomina os campos submarinos de petróleo existentes abaixo de um enorme e espesso lençol de sal de pré-sal. O geólogo ordena o mundo de baixo para cima. O sal dificulta e encarece a extração, porém preserva um óleo leve e de ótima qualidade.

Fortes evidências levam a crer que há 130 milhões de anos começou o desquite entre África e América do Sul. No meio, surgiu um lago que, crescendo, dá origem ao Atlântico Sul. O material orgânico foi sepultado debaixo do sal; posteriormente, outros elementos se depositaram. A combinação de temperatura e pressão converteu a matéria orgânica em petróleo. Movimentos tectônicos deslocaram o sal; parte do petróleo migrou para cima das "janelas" de sal. A Petrobras localizou campos submarinos nestas janelas: Namorado, Marlin, Roncador e toda uma peixaria permitiram a auto-suficiência deste combustível. O óleo dessas jazidas não é o melhor - é pesado - porém é nosso; está em nossa fronteira marítima, pertence à Petrobras, e o Brasil é líder em tecnologia e ambições em águas profundas.

A Petrobras foi em frente. Perfurou ao longo do mar, desde Espírito Santo até a Bacia de Santos, em busca do pré-sal. Tudo leva a crer que Existam campos no mar em uma área de até 800 quilômetros de extensão por 200 quilômetros de largura. As estimativas oscilam entre 30 e 50 bilhões de barris no pré-sal - não é um delírio nacional, esta é a avaliação do Credit Suisse.

Hoje temos 14 bilhões de barris provados. Com Tupi, Carioca, Júpiter e seus "compadres", chegaríamos às reservas atuais da Rússia e da Venezuela. O óleo do pré-sal é leve. O Brasil pode confiar nos geólogos, cientistas, engenheiros e tecnólogos que desenvolveremos a tecnologia para estes campos muito profundos e com espessas camadas de sal. Ao Eldorado Verde da Amazônia, descobrimos um Azul, no pré-sal; um novo Eldorado pelo brasileiro e para o brasileiro. Este é o sonho. Pode-se converter em um pesadelo.

Os EUA consomem 25% do petróleo do mundo. O grande poluidor bebe, todos os anos, sete bilhões de barris. Tem reservas pequenas, apenas para quatro anos. Por isto, tem tropas na Arábia Saudita (260 bilhões de barris de reservas), e frotas navais no Oceano Índico; estimulou o conflito latente entre sunitas e xiitas, promoveu Saddam Hussein e deu fôlego a Bin Laden. Com o primeiro, alimentou o ódio ao Irã (100 bilhões de barris); com o segundo, sustentou a rebelião dos afegãos contra a URSS. Após o 11 de setembro, destruiu os talibãs e, desde então, acusou o Iraque (100 bilhões de barris) de dispor de armas nucleares. Destruído Saddam, não se descobriu nenhum armamento não convencional. Transferiu, imediatamente, para o Irã a acusação de estar se nuclearizando. Os EUA mergulharam de ponta-cabeça no Oriente Médio, pois têm sede de petróleo - aliás, a China e a Índia também.

Até o pré-sal brasileiro, o Novo Mundo não poderia saciar os EUA; o México já foi depredado (tinha 52 bilhões de reservas e hoje está com 17). O Canadá tem muita areia betuminosa (custos extremamente elevados de extração). A Venezuela tem reservas insuficientes para a sede norte-americana. Alguns países ficaram sem petróleo: a Indonésia exportou, participou da Opep e vendeu seu óleo a US$ 3 o barril, hoje importa aUS$100 o barril. O Reino Unido não é mais exportador de petróleo no Mar do Norte; bebeu e vendeu demais. Este é o pano de fundo de um possível pesadelo geopolítico. Não interessa ao Brasil que o Atlântico Sul se converta num Oriente Médio.

A primeira pergunta que ocorre é: o petróleo do pré-sal é nosso? Logo depois: até quando? O neoliberalismo já promoveu nove rodadas de leilões. A ANP - instituição que no passado seria denominada de "entreguista" - pretendeu acelerar uma nova rodada nos blocos do pré-sal. Com clarividência, o presidente Lula suspendeu a rodada e solicitou à ministra-chefe da Casa Civil que estudasse uma nova legislação de regulamentação da economia do petróleo. Creio que Lula anteviu um possível "Iraque" em nosso território. O presidente sabe que a Petrobras pode, técnica e financeiramente, desenvolver Tupi e outros campos do pré-sal. Sabe que não se brinca com soberania na "Amazônia azul". Nossa Marinha de Guerra precisa do submarino nuclear; nossa Aeronáutica precisa de mísseis e da Base de Alcântara, porém quem garante que não seremos acusados de belicismo?

Conheço a ministra Dilma desde os tempos da Unicamp. Sei que é nacionalista e bem preparada; ela sabe que o preço do barril irá subir tendencialmente. É uma boa "aplicação financeira" manter petróleo conhecido e cubado como uma reserva estratégica; rende mais que os Títulos de Dívida Pública norte-americanos. Um fundo soberano, alimentado com uma parcela das reservas cambiais de nosso Banco Central, poderia subscrever ações e financiar a Petrobras. É mais estratégica esta "aplicação" do que apoiar o Tesouro dos EUA. Dilma sabe que a China fura poços e os mantém lacrados, preferindo beber petróleo importado em troca de suas exportações. Certamente, a regulamentação não será elevar royalties e contribuições especiais sobre o petróleo extraído do pré-sal por companhias estrangeiras.

A premissa maior é reassumir a Petrobras como empresa estratégica para o futuro desenvolvimento brasileiro e escudo protetor de uma geopolítica potencialmente ameaçadora. Para tal, é necessário retirar da companhia sua medíocre missão atual: "honrar seus acionistas". Aliás, o Dr. Meirelles, com o desejado fundo soberano, poderia converter o Banco Central em "acionista", recomprando as ações que os governos liberalizantes venderam para estrangeiros.

A diretoria da Petrobras, em vez de saber a cotação da ação em Wall Street, deveria estar articulada com o presidente da República, expondo ao Brasil o modo de manter o Eldorado em nossas mãos.

Artigo de Carlos Lessa, professor-titular de economia brasileira da UFRJ, publicado no jornal Valor.

terça-feira, 2 de setembro de 2008



Filosofia do Barão de Itararé. Está no blog martelada.
A minha filosofia não consiste em procurar a harmonia dos contrários, mas, ao contrário, em ressaltar as contradições da natureza, para que sejam, pelo menos, controladas.
As forças contrárias se atraem em virtude de uma lei que não me é dado evitar e pela qual não sou absolutamente responsável. Sei que do encontro de uma carga positiva e de outra negativa, resulta a faísca. Não me sendo possível impedir a faísca, procuro desempenhar o papel de pára-raios.


Estive pensando nos restaurantes modernos, amplos, esses lugares onde almoçamos depois que a vida urbana instituiu o repasto público e ligeiro. Uma invenção pouco nobre que tem contribuído para tornar, como diria Madonna, o segundo prazer da vida um tormento.
Os restaurantes parecem linhas de produção de empresas. Foram esses restaurantes em linha que fizeram das refeições um processo mecânico de entrar numa fila, servir-se, pesar e comer sua comida pesada, em mordidas rápidas e despersonalizadas. Comer assim estraga o prazer da mesa e impede a manifestação da luz e a pureza dos frutos da terra.
Talvez por isso muitas vezes quando vou almoçar penso logo em ir embora....sinto falta de aconchego e amor. A comida não existe pra ser engolida. É um prazer intimista. Napoleão dizia que a mesa é o único lugar onde podemos permanecer por horas sem nos entediar. Por isso, prefiro os restaurantes mais quietos, mais familiares, cada dia mais raros, mas que ainda oferecem um lugar amigo pra ficar em silêncio e, quando o silêncio já não basta, oferecem um espaço para partilhar a dor e a alegria de viver.