quinta-feira, 8 de maio de 2008

Viver nas cidades


Postei alguma coisa esses dias sobre a vida nas cidades. Vai minha última crônica sobre a cena santa-cruzense. Fiquei empolgado com um show do Deep Purple Cover no Vitrolão, uma espécie de bar underground, tri alternativo, que abriu aqui. Também gostei do The Doors Cover que tocaram no Icon. Essas duas casas me fizeram acreditar numa era de liberdade nessa terra bem regrada e que parece promover o mesmo infinitamente.


Cena Santa


Cidades costumam ter seu palco, são um cenário de acontecimentos. “As cenas da cidade” era a expressão que os filósofos franceses usavam para descrever a vida cultural de Paris e de outras grandes cidades européias. E a cultura acompanha toda boa cidade, formando um longo circuito de veias e perambulações em busca do novo espetáculo, da nova casa, bar ou lugar para cultivar o espírito e o corpo.
Santa Cruz andava, nesse quesito, meio parada. Um ar novo, interessante, no entanto, anda soprando e a atmosfera urbana parece querer nos convidar para um passeio. Quem circula um pouco e gosta de novidade já notou o florescimento de uma cultura alternativa, rica, cheia de esperança, seja na forma das várias bandas da gurizada que andam ensaiando e fazendo um ou outro show, seja nos bares e casas de espetáculo que as abrigam. Parece-me que estamos finalmente aprendendo que o espaço público é um espaço de expressão, vivência e aprendizado, uma oportunidade de viver.
É difícil definir o que é uma boa cidade. Considero um item para pertencer a essa classe a capacidade de promover a libertação da alma, essa vivacidade comum que transpira nos olhos, nos cabelos, na pele das pessoas, deixando-as criativas, interessantes e avessas. Nada de morto ou parado, de repetição cansada. Viva a luz da diferença! Paris estava assim em maio de 68. Nós que andamos em passos curtos estamos apenas adentrando nessa estrada. Mas vai chegar o dia em que poderemos dizer, gritar ou escrever palavras belas até mesmo aqui onde tudo é muito certo e comportado, “A floresta precede o homem, o deserto o segue” ou “sejam realistas, exijam o impossível!” como os jovens de 68 faziam nas ruas cheias de autoridade e tradição da França.
Uma boa cidade cultiva sonhos e é também um lugar para estar em casa, para estar bem onde se está. Ficar em casa não é ficar de um certo modo e sentir que se não estamos nesse modo, não somos. Ficar em casa é estar sem nenhuma renúncia, sem, principalmente, a renúncia ao desfrute desse bem frágil, necessariamente limitado, que são as nossas horas. A cidade livre, guiada por expressão firme, alegria e amor surge quando abandonamos o temor solitário de podermos ser quem somos. Por isso, os bons lugares são sempre lugares para se estar à vontade.
A nossa cena, hoje, é um palco aberto e renovado. Estive esses dias vendo uns shows no Vitrolão, depois no Icon. Nem tudo são flores, mas nunca me encontrei, nem estive tão em casa com minha alma velha e bagançuda, quanto diante do rock das guitarras jovens, destruindo em acordes a cultura convencional. Como se dizia no meu tempo...muito massa, cara!

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