quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Tenho a impressão, injusta talvez, que as coisas sempre são, para mim, mais difíceis. Não que o mundo tenha sido ingrato. Antes o contrário. Minha vida é boa demais. É que o mais leve acontecimento exige-me uma presença de ser completa, de modo que ando sempre de corpo e alma atirado em tudo....até nas coisas mais banais. É claro que esse é meu juízo e quem me assiste pode nem concordar. Muitos imaginam que sou um cara tranquilo, que leva a vida numa boa. Vez ou outra, no entanto, até um homem enganado deve ter o direito de falar o que pensa. E o que eu queria dizer hoje é que entrego para a vida todas as minhas forças. Se meus resultados não são valiosos, se falta força à minha prosa, se minha voz é fraca, talvez seja por uma falta de aptidão para o mundo, pois, da minha parte, devo dizer que me lanço deslumbrado em cada instante, me alegro e entristeço, canso e descanso, amo e odeio, cuido e adoeço, sempre no limite extremo. E essa tem sido toda minha desgraça..sentir sem saber ser prático, objetivo e direto como os homens mais preciosos e brilhantes conseguem ser. Invejo e admiro aqueles que dizem: "as coisas são assim", "isso aqui se resolve dessa maneira...vês como é simples". E eu, catatônico, que só queria tangenciar por um instante as barbas da verdade, vivo vagando daqui prá lá, fascinado com poesia, com frases significativas, sempre longe dessa habilidade de apanhar e reter as coisas com uma luz cristalina. Numa certa época minha memória até inventou uma frase do William Yeats que elogiava os ineptos (como eu). Era mais ou menos assim: "os melhores homens são frios e os piores são cheios de intensidade apaixonada". Naturalmente eu me encontrava na segunda categoria. Mas nem essa frase eu acertei, pois o que ele diz é coisa bem diferente:
"Rompem-se as coisas. O centro não mais agüenta/Mera anarquia anda solta sobre o mundo/A maré sangrenta não é contida/E por toda parte afogada a cerimônia da inocência/Privados os melhores de qualquer convicção/E cheios os piores da apaixonada intensidade" (William B. Yeats).


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