quinta-feira, 13 de novembro de 2008



Escrevi esse texto dias atrás. Agora ele tá meio caduco, pois o Grêmio voltou a jogar. Talvez a parte etérea justifique a publicação.

Aproveitei um desses últimos domingos nublados para fugir de mais uma das lamentáveis apresentações do Grêmio. Reconheço agora que minha decisão foi das mais sábias. Evitei uma decepção e consegui ver a bela biografia do médico espírita Bezerra de Menezes que está em cartaz no Cine Santa Cruz.

Não tenho preconceito nenhum contra qualquer religião. Leio textos religiosos de várias tradições sempre com muito proveito e felicidade da alma. Gosto mais de algumas religiões, aquelas que estão mais próximas das minhas inclinações. Mas não creio que haja algo como uma “religião verdadeira”. Não creio que haja tal coisa, pois me parece haver uma comunhão de princípios básicos entre as diferentes religiões do mundo. Bezerra de Menezes manifesta, bem no início do filme, dois desses princípios: a natureza humana como espírito e a existência de Deus (o ser supremo). O primeiro princípio é admitido por qualquer credo não materialista, qualquer credo que admita a sobrevivência da alma após a morte. A diferença crucial é que muitas religiões, especialmente orientais e o espiritismo, acreditam que podemos renascer como corpo, enquanto outras negam tal possibilidade.

Já escrevi essa frase várias vezes: acredito que a vida seja um processo de aperfeiçoamento moral e espiritual. Não sei quantas vezes nos será dada a oportunidade de aprimorar nosso ser...aprimorar no sentido mais comum do termo. Talvez seja uma apenas, como é comum pensar na maioria das religiões do Ocidente. Se for apenas uma, temos que aproveitá-la maximamente e viver na direção dos melhores propósitos que uma vida humana permite.

Bezerra de Menezes me parece ter mostrado, independentemente de suas crenças particulares, o que é um bom direcionamento, um bom caminho de vida. E esse foi justamente o elemento que mais me chamou a atenção no figura desse brilhante médico cearense. Não foi saber que ele fez certas coisas por ser espírita ou católico, foi saber que ele não viveu para sua glória pessoal ou para as convenções da sociedade carioca, mas viveu pela grandeza de seus ideais pátrios, ideais abolicionistas e do fim dos maus-tratos aos irmãos negros, viveu para cultivar a dedicação aos outros e o espírito da caridade. Essa é a lição mais tocante que a vida de um crente, de um homem piedoso, pode ofertar.

Numa altura do filme ele discursa num enorme salão, cheio de pessoas importantes e professa publicamente suas crenças espíritas. Ele afirma algo como “a salvação está na caridade”. Não conheço o sentido do termo caridade nos textos espiritualistas. Até onde sei a caridade no texto bíblico de São Paulo é uma tradução do termo grego “ágape”, comumente traduzido por “amor ou caridade”, embora o termo grego pareça significar mais literalmente algo como “amor universal”. Considero que Bezerra de Menezes foi um bom exemplo desse amor universal, um amor difícil de traduzir em palavras, uma experiência (como ele relata) que talvez nunca ninguém nos tenha falado, mas que descobrimos em nossos melhores momentos, por se tratar de uma semente plantada em nossas almas.

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