terça-feira, 6 de julho de 2010

filosofia, produção e procriação



É curiosa e pouco explorada a relação entre filosofia e paternidade. Um grande número de filósofos famosos, até onde sabemos, não eram pais. Lembro, assim no más, dos seguintes: Platão, São Tomás, Descartes, Hume, Kant, Stuart Mill, Nietzsche, Wittgenstein, Heidegger. Rousseau abandonou seus filhos e Marx parece ter tido alguma dificuldade para alimentá-los. Imagino que, para alguns filósofos, ser pai poderia representar um impedimento para o pensamento; afinal, cuidar de crianças requer tempo! No entanto, é mais provável a hipótese de que eles, que tanto pensaram, nunca tenham dado uma atenção muito grande ao assunto, a não ser, talvez, em algum devaneio perdido, motivado pelos gritos de crianças na rua. 


Tive meu primeiro filho com 23 anos; mais ou menos a idade que Hume escreveu o Tratado da Natureza Humana. O segundo nasceu no ano passado. Aprendi e venho aprendendo muito com eles. Ter filhos não parece tão relevante para a humanidade quanto escrever bons livros. Mas ser pai tem lá suas compensações. Eu diria que elas aparecem quando nos movemos numa outra ordem de interesses, um domínio de  ganhos que não figura na esfera das questões diretamente acadêmicas (pelo menos naquelas que dizem respeito à filosofia). Seja como for, não parece haver nenhuma incompatibilidade lógica entre produzir e reproduzir, entre ser bom filósofo e ser pai. E talvez as chances de produzir algo relevante aumentem quando temos filhos mais cedo.

Penso em abandonar a arte da reprodução. Já na academia, tenho ainda mais uns 8 ou 9 anos para atingir a idade média da produção de uma obra influente (segundo o levantamente estatístico desse blog). Veremos! Até 2020!

2 comentários:

Eros disse...

Oi Flávio,

Não me parece ser o caso do Julio Cabrera, que inclusive escreveu um livro sobre o assunto: Porque te amo não nascerás.

Mas não estou dizendo que concordo com ele. Não vivenciar o cuidado (que não precisa se dar exclusivamente com os filhos, é verdade) me parece trazer alguns prejuízos ao pensamento ético.

Abraços,
Eros.

Flavio Williges disse...

Oi Eros,

Não sabia que ele tinha escrito um livro sobre ter filhos. Que interessante! Vou dar uma procurada.
Abraço

F.