quarta-feira, 16 de junho de 2010

Que o começo da sociedade civil provém do medo recíproco


Assim esclarece a experiência, a todos aqueles que tenham considerado com alguma precisão maior que a usual os negócios humanos, que toda reunião, por mais livre que seja, deriva quer da miséria recíproca, quer da vã glória, de modo que as partes reunidas se empenham em conseguir algum benefício, ou aquele mesmo eudokimein (em grego no original e significa fama) que alguns estimam e honram junto àqueles com quem conviveram. [...] mas, embora os benefícios desta vida possam ser ampliados, e muito, graças à colaboração recíproca, contudo- como podem ser obtidos com mais facilidade pelo domínio, do que pela associação com outrem-, espero que ninguém vá duvidar de que, se fosse removido todo o medo, a natureza humana tenderia com muito mais avidez à dominação do que a construir uma sociedade. Devemos portanto concluir que a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns para com os outros, mas do medo recíproco que uns tinham dos outros. (Hobbes, Do Cidadão, Capítulo 1, parágrafo 2, p. 28, da edição da Martins Fontes).

Um comentário:

Brunnus disse...

Uma passagem que evidencia o eixo gravitacional do agir político em Hobbes: o medo recíproco.

Um abraço amigo.