quarta-feira, 17 de setembro de 2008


Em tempos de Brasil a mil, sempre é bom dar uma pausa socrática e pensar um pouco em quão longe realmente poderemos ir. Tudo bem que esse tipo de conversa pode parecer um anti-clímax, uma espécie de banho-de-água-fria de um cara neurótico e pessimista. Afinal, fazem décadas que a economia de nosso país não mostrava tanto fôlego, décadas que não víamos otimismo e um discurso de esperança de melhorias no atendimento à saúde, no saneamento, na Amazônia e etc. E o otimismo não é gratuito: temos o petróleo pulando debaixo das placas, crescimento do emprego, produção e consumo em alta em muitos Estados (não no nosso, que anda endividado até o pescoço) e articulação internacional para dar autonomia e liberdade ao calejado pueblo latino. O normal, então, seria dizer pros pessimistas neuróticos: "olha só, nunca foi assim...faz favor de curtir um pouco". Não, obrigado, não vou entrar nessa onda! Não que eu queira ser um estraga-prazeres. É que já sou um pouco velho e reconheço que aqui, nos trópicos, o vento sopra, mas o tempo demora prá passar...e as mudanças chegam tarde ou nunca chegam.
Então, nobres senhores, aprendamos a ver as coisas por cima das vagas do entusiamo e o que se vê talvez já nem seja mais tão bonito. Vou dar um exemplo da minha terra que são as academias privadas de ensino.

A universidade brasileira, com algumas pequenas exceções saudáveis, é ainda o retrato de uma civilização primitiva onde a verdade verdadeira (nua e crua) e o conhecimento sempre aparecem atrelados às chagas da baixa política. Um exemplo claro disso é a política educacional brasileira que segue, com confiança cada vez maior, a desastrosa estratégia de melhorar os indíces de educação (superior) multiplicando diplomas. Vou mostrar como isso é danoso para o país a partir do caso das universidades privadas. Há 10 ou 20 anos atrás essas universidades existiam ao lado do sistema público de ensino. Cobravam matrículas pesadas e sobreviviam de um trabalho que eu poderia qualificar sem nenhuma dúvida de honesto e comprometido com um dos interesses fundamentais da república: oferecer boa formação, especialmente para profissionais de nível superior. A lei das particulares era, até então, a seguinte: "faça bem teu trabalho, forme bem teus profissionais e cobre o valor justo (em geral alto, pois ensino não é mercadoria barata)". Não tenho dúvidas que as coisas andavam bem nessa época.

Mas então veio a tal desregulamentação e os portas se abriram. Começaram a pulular universidades e faculdades e centros em tudo quanto é canto. As particulares mais antigas se viram num brete, tendo que diminuir mensalidades para lidar com as concorrentes e, em muitos casos, acabaram sendo seduzidas pelo discurso danoso da facilitação. A máxima do "faça bem teu trabalho" mudou para "se apertarmos muito, eles (essa moeda forte chamada alunos) vão prá outra instituição qualquer e aí não sobreviveremos". Consequência lógica: melhor não pegar pesado e rezar prá que tudo não afunde no lodaçal da falta de competência, do desprezo pelo conhecimento profundo e bem sedimentado. Deu o que todos sabem: universidades privadas de longa tradição com desempenho escolar cada vez mais fraco, como mostrou a última avaliação do MEC.
Nosso país pode ser mais. Otimismo e confiança são benéficos. Já o entusiasmo...bueno no universo do ensino ele certamente daria bons frutos se fosse aplicado no fechamento das más escolas.

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